25/09/2009

Maria Denise: nós estamos com você!

A colega Maria Denise Bandeira encarna, hoje a figura dos professores.
Professora da Escola Estadual Barão de Lucena, da Vila São Tomé, de Viamão, transformou-se, nesta semana, na professora de todo o país.

Maria Denise merece nossa solidariedade, em primeiro lugar, porque o fato com ela ocorrido faz parte do cotidiano dos professores. Em sua pele, estavam representados inúmeros professores que vivenciam situações semelhantes em nossas escolas.

Em segundo lugar, porque sua postura abriu o debate sobre quais são os limites dos indivíduos e quais são as fronteiras entre o público e o privado. Escola é bem público, como bem afirmou a colega.

Em terceiro lugar, pelo papel político-pedagógico cumprido por ela.
Maria Denise foi protagonista de um fato que reflete uma grave crise social. Os jovens sem limites, porque seus pais não sabem quais são os limites- estão inseguros nesta sociedade. Pais, que esperam soluções dos professores, que por sua vez também se sentem abandonados – “órfãos” como afirmou uma colega da mesma escola. Nossa escola totalmente abandonada pelos governantes e é vista pelos mesmos como sendo um depósito de profissionais, crianças e jovens, sem perspectiva de um futuro melhor do que a geração de seus pais.

Ao estabelecer um limite para o aluno em questão, Maria Denise, teve uma atitude que as pessoas estão esperando de alguém. Por isso, seu ato foi pedagógico e recebeu tanto apoio. E também político.

Sua atitude foi política porque expôs, como ela mesma me disse, o abandono do próprio professor e da escola pública. Ela teve que agir para defender a escola pública que deve ser de todos: dela, do aluno e de toda aquela comunidade escolar.
Vejam: o aluno teve que refazer a pintura da parede que ele pichou, que tinha sido pintada recentemente por um mutirão da comunidade, que arrecadara antes o dinheiro para comprara as tintas. Por quê?
Porque os governantes são omissos com a educação, com o serviço público.
Porque os governantes, com suas políticas de ajuste fiscal e “´deficit zero”, desestruturam as escolas públicas a ponto de a comunidade se tornar responsável pela pintura, pela reforma, pela ampliação.
Porque os governantes não tem limites para se apropriar do dinheiro público para benefício próprio e de seus amigos – vide Yeda e os recursos desviados do Detran, vide Sarney e os atos secretos de contratação de amigos e parentes sem concurso para o Senado. E para eles nada acontece! Falta justiça. Mas, no episódio da escola coube a Maria Denise o papel de dizer: chega! Respeito com a coisa pública!

As propagandas falaciosas dos políticos, que prometem tudo antes das eleições e depois vêm com os cortes das verbas. A história do descaso, do desrespeito com o bem público, da falta de respeito e o descaso com a educação e com os educadores, onde faltam profissionais das mais diversas áreas, acabou sobrando, justamente para uma educadora com sua preocupação de preservar o bem público e o esforço da comunidade, abrir o debate sobre que educação estamos passando para as futuras gerações.
A colega Maria Denise, no afã de educar, teve que substituir a educação dos pais, teve que substituir o Estado, que não assume as seus deveres e principalmente, com seu gesto desnudar a calamidade social por trás dos muros das escolas.
O povo gaúcho e a comunidade escolar tem que aproveitar esse episódio corriqueiro nas escolas gaúchas, que está sendo explorado pela mídia, para verdadeiramente discutir os rumos e o papel da educação formal no Brasil.

Neiva Lazzarotto

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