08/04/2010

Quem planta vento colhe tempestade

por Kathia Vasconcellos Monteiro - Ambientalista

Diz o ditado: “Quem planta vento colhe tempestade”; é isto que a humanidade está fazendo há décadas. O vento, no caso, é a poluição do ar, a emissão de gases de efeito estufa, a impermeabilização do solo, a construção em encostas e várzeas, o lixo nos rios e outras mazelas mais. Qualquer cidadão com um pouco de visão percebe que estas atitudes vão causar tragédias, vamos colher tempestades (literalmente).
Apesar dos sabidos riscos, continua-se a permitir que pessoas morem em áreas de risco (as áreas de preservação permanente – APPs, na linguagem ambiental). Basta circular pelas cidades brasileiras que têm relevo acentuado para antever que tudo virá abaixo; cedo ou tarde, tudo virá abaixo! Interessante é que depois das tragédias tudo volta à normalidade; quer dizer, a normalidade surreal do Brasil e outros tantos países que não aplicam políticas públicas eficazes para impedir a perda de vidas e de muito dinheiro. Enterrados os mortos, voltarão as discussões para flexibilizar o Código Florestal Nacional que diz exatamente que as áreas de risco não devem ser ocupadas – só que o código florestal chama essas áreas de APPs.
Pesquisas mostram que gastamos 15 vezes mais recursos na recuperação de desastres do que na prevenção. Estudos comprovam que mais de 65% dos desastres naturais são meteorológicos e cerca de 75% deles ocorrem em áreas densamente povoadas em países em desenvolvimento, refletindo que a falta de planejamento urbano, de investimentos em saúde e educação são fatores importantes para o aumento das tragédias. Não é por acaso que 95% das mortes em desastres naturais de todos os tipos se dão em países pobres ou em desenvolvimento. Quantas vidas mais terão que ser perdidas para que os governantes, com o apoio da população, comecem a agir? Chega de tragédias anunciadas, a ciência indica os caminhos, a tecnologia auxilia na prevenção e mitigação e ações se fazem urgentes.
Precisamos de políticas públicas responsáveis e de longo prazo para enfrentar o número cada vez maior de eventos climáticos extremos que as mudanças climáticas globais já estão causando. Chega de semear vento.

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